Obsolescência Programada na Malandragem: Hackers Salvam Trens “Brickados” e Fabricante Quer PROCESSÁ-LOS

Empresas como John Deere e Apple já tentaram barrar reparos independentes, mas será que essa estratégia funciona?

Trem da Newag

O limite da malandragem das empresas: três hackers poloneses, contratados pela Serwis Pojazdów Szynowych (SPS), uma empresa especializada em veículos ferroviários, enfrentaram um desafio curioso: trens “brickados” pela própria fabricante, a Newag. Quando algo está “brickado” no mundo da tecnologia, é como se fosse um tijolo: inútil (como quando alguém tenta usar um iPhone roubado e ele para de funcionar). E foi exatamente isso que aconteceu com esses trens.

Tudo indica que a Newag, a fabricante dos trens, foi a responsável por “brická-los”, embora a empresa negue. Agora, a Newag quer que os trens reparados pelos hackers sejam retirados de serviço, alegando que foram “hackeados” e, por isso, podem ser inseguros. Parece uma estratégia já vista antes, né?

Essa história me lembra o que aconteceu com os tratores da John Deere, que por anos dificultaram os reparos independentes dos proprietários ou as impressoras EPSON que ao imprimir um certo número de páginas travavam o equipamento, que deveria ser levado a autorizada para uma manutenção e desbloqueio.

A Apple, conhecida por tornar quase impossível consertar seus dispositivos, também cedeu um pouco à pressão dos usuários e reguladores, mas será que a Newag seguirá o mesmo caminho?

Direito de Reparação em Jogo

O caso chamou a atenção do portal Ars Technica, que trouxe mais detalhes. Os três desenvolvedores – Jakub Stępniewicz, Sergiusz Bazański e Michał Kowalczyk, do grupo Dragon Sector – foram acionados pela SPS em junho de 2022 para resolver o enigma dos trens “brickados”. A mídia polonesa local, Rynek Kolejowy, relatou que os trens fabricados pela Newag e operados por uma linha ferroviária estavam apresentando falhas misteriosas, deixando transportadores e passageiros na mão.

Depois de dois meses de análise, os hackers descobriram que o problema era causado intencionalmente pela própria Newag. A empresa teria “brickado” os trens de propósito, talvez para forçar reparos custosos. Uma jogada arriscada, que acabou sendo exposta quando os hackers solucionaram o problema e até compartilharam um vídeo no YouTube mostrando os trens voltando a funcionar. É  claro que a Newag não gostou nada disso e ameaçou processar os hackers, o que não é novidade em batalhas pelo direito de reparação.

A empresa negou todas as acusações, dizendo ao Runek Kolejowy que não introduziu e não introduzirá nenhuma solução no software que cause falhas intencionais.

Em declarações a Runek Kolejowy, os responsáveis pela Newag indicaram que:

“O nosso software está limpo. Não introduzimos e não introduziremos no software dos nossos comboios qualquer solução que provoque falhas intencionais. Isso é uma calúnia à nossa concorrência, que está conduzindo uma campanha ilegal de relações públicas negras contra nós”.

Enquanto isso, a Dragon Sector publicou uma extensa declaração explicando o processo e os sistemas DRM encontrados. A SPS, que contratou os hackers, ficou ao lado deles, o que só torna a situação ainda mais interessante.

Referências:

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