Contém spoilers do ultimo episódio
Depois de 14 anos acompanhando esse rico universo criado por Vince Gillian é a hora de nos despedirmos do advogado mais politicamente incorreto da Netflix, Saul Goodman.
A última temporada de Better Call Saul foi mais focada no perfil psicológico de Jimmy McGill/Saul Goodman, evidenciada pelos flashbacks que definem a verdadeira essência deste rico personagem.
As cenas nos certificam de que na verdade Saul é um excelente advogado, como prova a sentença que recebe pelo seu acordo de delação, após seu trabalho de observação e narrativa. Em sua vida ele não precisaria agir como um bandido, mas em sua convicção não há busca pela realização de seu ego como fez Walter White, ele simplesmente faz o que faz, sem culpa. E o que fica mais evidente: ele nunca se arrependeu do que fez.
Mesmo sem estar verdadeiramente arrependido, Jimmy decide deixar tudo de lado por amor a Kim. Ele não devia nenhum tipo de confissão ao júri, mas sentiu que devia isso a Kim. No final das contas, fez tudo por amor a ela, para tentar compensar a decepção que ela sentia por ele.
A última cena entre Jimmy e Kim é uma referência não só à rotina conjugal que eles levavam (cigarros compartilhados e longos silêncios), mas também aos filmes noir que eles adoravam assistir juntos: compostos de amor amargo, cenas silenciosas, dolorosas e com desfecho em aberto.
O final foi muito parecido com o de Breaking Bad: sem explosões, sem feitos heroicos e cinematográficos. É um final tranquilo, onde cada peça entra em seu devido lugar, com os personagens principais aceitando seus destinos, mesmo que de maneiras muito diferentes.
Em Breaking Bad Walt se comprometeu a terminar as coisas completamente, sem deixar pontas soltas: teve sua redenção com Skyler, matou as pessoas que ele deveria que matar e finalmente morreu da forma que planejou (tecnicamente ele venceu o câncer).
Igualmente, Saul se arrepende pela maneira como arruinou a vida de Kim. Ele então abre mão da redução de pena que conseguiu de 190 anos para 7 anos, admitindo tudo, em um discurso emocional que pela primeira vez realmente parece genuíno, ao contrário das muitas outras vezes em que ele usou esse mesmo truque para ganhar um caso ou salvar sua vida. Tudo por Kim, para ela recuperar sua vida, de uma forma ou de outra e para aliviar ela, assumindo uma parte do peso na consciência pela morte de Howard Hamlin.
Só quem acompanhou essa jornada sabe que a cena do ônibus no episódio final foi memorável. Durante todas essas temporadas a única coisa que realmente importava para Jimmy era ser respeitado por seus colegas como seu irmão era. Talvez esse tenha sido a motivação que o levou a cometer todas essas ações contra a Hamlin, Hamlin & McGill (HHM). Finalmente, ele é aplaudido por um ônibus cheio de condenados – seus futuros colegas. Definitivamente não do jeito que ele esperava ser celebrado quando começou como advogado, mas pelo menos ele conseguiu algum tipo de reconhecimento, um final “feliz”.
No final, tanto Walter quanto Saul receberam o que mereciam. Por mais que gostássemos deles, principalmente por causa da maneira como eles são escritos pelo brilhante Gillian e atuados com maestria pelos competentes atores Bryan Cranston e Bob Odenkirk, não podemos esquecer que eles foram criminosos perigosos que destruíram vidas e subverteram a lei.
Para finalizar, curtas palavras: obrigado Vince Gilligan por esta brilhante jornada!