Depois de 4 meses de leitura, para entender todas as nuances desta obra, finalmente terminei, “na força do ódio” os 3 imensos volumes dessa obra magnífica e looonga de Ayn Rand.
Como conheci o livro?
Por incrível que pareça o livro me foi indicado por ninguém menos que Bertram Cooper de Mad Man.
Na verdade ele não me indicou e sim para Don Drapper, na primeira temporada da série, aí fiquei curioso sobre o que seria o livro.
Como é o livro?
“A revolta de Atlas” segundo alguns é o livro mais vendido nos EUA e mais influente depois da Bíblia Sagrada. A obra se inicia com uma pergunta logo em sua primeira página:
“quem é John Galt?”.
A autora apresenta esse personagem com proporções épicas. Segundo ela o seu objetivo foi a apresentação de um ideal de homem, e esse objetivo é alcançado – na figura de John Galt.
A história ocorre nos Estados Unidos em um tempo futuro indeterminado (se consideramos a época em que o livro foi escrito). O país está em uma espiral econômica descendente, com empresas fechando e trabalhadores largando seus empregos na indústria. Outros países do mundo se tornaram miseráveis Repúblicas populares socialistas completamente dependentes dos EUA. O nacionalismo americano confisca empresas lucrativas em nome do “grande bem comum”.
Nesse contexto caótico a autora narra a história da executiva Dagny Taggart, colocando como pano de fundo de seu romance as bases morais fundamentais de sua filosofia, o Objetivismo.
Os personagens principais da trama são Francisco D´Anconia, Dagny Taggart, Hank Rearden e o personagem principal John Galt, empresários de sucesso que veem seu mundo desmoronar por conta do excesso de leis e regras governamentais, que tentam desviar toda a produção do país para manter programas sociais criados por filósofos e intelectuais que vivem de auxílios do governo.
Nas falsas premissas de que existe uma fonte ininterrupta de recursos e que os industriais são a causa do mal do mundo, eles cada vez mais oprimem os empresários, professores e artistas que se opõem à distribuição de renda.
Isso acontece até o momento em que as melhores mentes e os empresários mais bem sucedidos começam a desaparecer deixando tudo para trás e a sociedade começa a entrar em colapso por conta da falta de pessoas inteligentes para “tocar” o país.
Dagny é a executiva por trás do sucesso da empresa de trens Taggart Transcontinental e durante o livro ela vive um romance escondido com um grande empresário, o único que tem os valores parecidos com os seus. Seu irmão, ao contrário, apesar de ter o cargo de CEO é um “parasita” na empresa, e tenta aumentar os seus lucros convencendo seus amigos de Washington a criar mais leis que beneficiam sua empresa e forçam seus concorrentes a amargarem grandes prejuízos.
Outro personagem notável do livro é Hank Rearden: o industrial que cria o metal Rearden, mais leve, forte e durável que o aço tradicional e com isso passa a ser alvo do governo, representando a última resistência empresarial ao plano de “socialização” da indústria americana.
Finalmente falamos um pouco de John Galt sem spoilers. Como já citei acima é uma figura mitológica no livro e que supostamente lidera uma revolução individualista.
O lema que baseia a estrutura de sua comunidade é:
“Juro, por minha vida e meu amor, que jamais viverei por outro homem e nem pedirei a outro homem que viva por mim.”
Ou seja, a meta da vida de cada homem é sua felicidade e, para isso, ele deve procurar seus meios para alcançá-la, sem esperar que nenhuma pessoa seja responsável por dar-lhe a felicidade.
Curiosidade: O livro gerou uma série de 3 filmes de baixo orçamento, que dão vergonha alheia em quem assiste.
Minha visão sobre o livro
Um resumo do livro é que os personagens principais são pessoas talentosas e produtivas e os antagonistas conseguem fazer com que tais personagens carreguem todo o fardo do mundo e vejam o fruto de sua produção parar nas mãos de terceiros (como o Titã Atlas, que carrega o mundo nas costas). Para isso, usam como camuflagem o discurso do altruísmo, que tem como base a premissa de que “o individuo deve trabalhar para o bem de todos”.
Rand só comete um erro ao apresentar esse livro como uma obra popular, pois uma das conclusões que uma pessoa comum tem ao ler este livro é a de que todos que estão nas classes mais baixas da sociedade estão por falta de mérito: esse pensamento ignora as condições sócio-históricas de cada indivíduo e ainda, as escolhas individuais. Na verdade o livro é mais politico que um romance.
Gostei muito da leitura, o livro é muito bem escrito e tem termos interessantes. Só o que tenho a observar é que ele é muito longo. Três volumes com mais de 1200 páginas, discursos longos e repetitivos, como o final que, segundo o próprio locutor, tem um monólogo de mais de 3 horas de duração. Os últimos 10% da leitura (li o livro no meu Kindle) saíram na “força do ódio”, definitivamente “A Revolta de Atlas” não é um livro para se ler com pressa. No fim é uma leitura gratificante.
Por mais que haja diferenças ideológicas entre o leitor e a filosofia da autora, considero esse livro altamente recomendável. Uma autora que nos faz pensar e refletir com lógica sobre o que é apresentado. Mesmo que escrito na década de 50 ainda é bastante atual em sua temática.