Última atualização em 20 de maio de 2021
Acontece comigo com bastante frequência. Quando estou em um transporte público (ônibus, trem, metrô, UBER, etc) sinto náuseas, dor de cabeça e mal estar assim que o veículo começa a se movimentar.
Mas porque isso acontece e o que podemos fazer para amenizar esse incômodo?
Esse desconforto, por incrível que pareça não é novo. Ele foi descrito inicialmente por Hipócrates na Grécia antiga e chama-se cinetose (em grego “doença do movimento”). Ela é desencadeada quando a pessoa submete-se a movimentos de veículos (viajar em carros, ônibus, avião, barcos, etc).
Os sintomas se iniciam após o inicio do deslocamento se esse não for completamente uniforme (linear), ou seja frear, acelerar, reduzir ou aumentar a velocidade são a ignição do mal.
O que causa isso?
Nosso sistema de equilíbrio funciona como um tripé, e seus pilares são o labirinto (estrutura dentro da orelha interna), a visão e propriocepção (sentido que nos informa onde nossas partes do corpo estão no espaço).
Os sintomas são causados pelo conflito do estímulo dos órgãos que percebem o movimento, mas não encontram padrões neurais semelhantes, como se o cérebro não soubesse como está sendo causado aquele movimento.
É como um curto circuito na cabeça: as informações provenientes dos 3 sistemas (visão, labirinto e proprioceptivo) são enviadas para um centro de integração, que as repassa a um centro comparador, que, como o nome já diz, compara as informações obtidas com às armazenadas na nossa memória. Se o estímulo percebido não for reconhecido, quando comparado à memória, gerará um conflito.
Isso cria um “bug” temporário levando ao estímulo do centro de vômito e sintomas como náuseas, vômitos, palidez, aumento do suor e da sensibilidade a odores (ainda mais se alguém abrir um pacote de salgadinho fedido no veículo), dor de cabeça, tontura e perda da capacidade de concentração. É a mesma sensação de quando você dá um bug nesse sistema voluntariamente, brincando de rodar até ficar tonto.
Como faço para “ler em movimento”?
Sendo o conflito sensorial a causa disso, o mais indicado a fazer é diminuir as causas deste conflito. O ideal seria não ler em movimento, mas quando é necessário podemos fazer o seguinte:
A longo prazo o que pode ajudar é realizar atividades físicas que utilizam movimentos repetidos da cabeça, associados à estímulos da visão como a dança, o tênis e artes marciais que levarão seu cérebro a aprender esses padrões.
A curto prazo:
- Sempre mantenha os olhos fixos em um ponto do horizonte, evite olhar para as janelas do veículo;
- Sente em local ventilado, nunca de costas para o sentido em que o veículo se locomove;
- Olhe para cima com frequência. A cada página que terminar do livro ou da revista, olhe um pouco para cima. Isso faz com que seu corpo ganhe novamente a sensação de saber que está em movimento e a tontura é evitada com mais facilidade;
- Controle a ansiedade e a frequência respiratória;
- Não fique muito tempo em jejum;
- Garanta que haja uma boa iluminação para a leitura, se possível sente em baixo das luzes do banco. Se não tiver luzes no veículo, use uma lanterna ou a própria iluminação do celular (muitas vezes, a sensação de vertigem ao ler no ônibus ou carro não tem tanto a ver com o movimento em si, mas, sim, com a falta de iluminação);
- Evite o uso de café, bebidas alcoólicas, doces e alimentos muito gordurosos antes da viagem;
- Divida a leitura em intervalos mais rápidos, evitando que a visão fique muito cansada. Em vez de ler vários capítulos de uma vez só, faça um intervalo de alguns minutos entre cada dezena de páginas;
- Leia mais devagar do que o normal. Ler rápido demais exige mais concentração e mais acuidade visual. Se você tenta fazer isso as chances de se sentir mal são ainda maiores; e
- Se a coisa ficar insuportável, procure sempre um profissional médico capacitado, no caso o Otorrinolaringologista.
O que eu fiz no meu caso em particular?
Por um milagre que até hoje procuro estudar e não acho as respostas consigo ler no Kindle e não sinto enjoos. E quase todo mundo que entrevisto me dá esse mesmo depoimento:
– só consigo ler no transporte público em um kindle.
Provavelmente seja pelo fato de ser uma tela “ink paper”, que simula o papel e como você pode aumentar a fonte, ele reduz a concentração do cérebro naquele ponto em si e deixa a visão periférica regular sua sensação de movimento.
Espero que essas dicas sejam úteis para vocês e qualquer dúvida podem falar comigo via comentários.