A Netflix confirmou que não produzirá uma terceira temporada para a série “The OA”.
A série de ficção científica foi lançada em 2016, tendo sua segunda temporada ido ao ar em 2019. A personagem principal da série e vivida pela atriz Brit Marling (que foi a criadora) é uma mulher cega que desaparece por sete anos, até que, de repente, volta para sua casa com a visão restaurada, conforme os episódios vão se desenrolando ela tenta localizar pessoas que podem a ajudar a resgatar as outras pessoas que estiveram em cativeiro com ela.
Brit criou a série em parceira com Zal Batmanglij. Os dois também eram produtores executivos, junto com Brad Pitt, Dede Gardner, Jeremy Kleiner e Sarah Esberg, da Plan B Entertainment, e Michael Sugar, da Anonymous Content.
O cancelamento da série ‘The OA’, por parte da Netflix, pegou os fãs despreparados, deixando-os à deriva, sem um final para a narrativa, pois o fim da segunda temporada foi o tipo de encerramento que solicita uma continuação, com diversas “pontas soltas” e assuntos a serem esclarecidos na trama.
Em sua conta oficial no Instagram a atriz Brit Marling, fala sobre o assunto pela primeira vez:
“Talvez alguns de vocês já saibam ou talvez alguns descubram por meio dessa carta que a Netflix não dará sequência a The OA. Zal e eu estamos profundamente tristes por ter que encerrar essa história. A primeira vez que ouvi a notícia eu chorei bastante. Assim como um dos nossos executivos da Netflix, que tem estado conosco desde os primeiros dias, quando ainda fazíamos o rascunho do porão de Hap, o nosso escritório no Queens. Essa jornada foi bem intensa para todos que trabalharam e se importaram com essa história.
Uma vez alguém me perguntou: “Porque você é tão obcecada por sci-fi?”. Eu nunca havia me dado conta de que eu era obcecada ou que até mesmo a maioria das narrativas que já escrevi até hoje se enquadravam no gênero de ficção especulativa. Eu fui pega desprevenida. A pergunta veio de alguém que não curte o gênero, então eu acho que só disse algo do tipo “hum, é divertido construir mundos?”. Mas pensei naquela pergunta por muito tempo desde então e eu creio que uma resposta bem próxima da verdade seria isso:
É difícil ser inspirada para escrever histórias sobre o mundo ‘real’, quando você nunca se sentiu livre nele. Como uma mulher que escreve personagens para mim mesma e para outras mulheres, sempre me pareceu que as estradas já pavimentadas para percorrer em uma narrativa são limitadas. Talvez um dia eu esteja bem evoluída como uma escritora para pavimentar minhas próprias estradas na “realidade” (refere-se à Elena Ferrante), mas hoje eu normalmente me sinto travada.
Eu posso escrever sobre algumas mulheres que estão “no topo”, mas então eu estaria perpetuando as mesmas hierarquias que nos oprimem (e apenas pedindo para mudar a opressão para outra pessoa ). Eu poderia escrever sobre a vasta maioria das mulheres na base econômica, mas o poder de mover imagens e atrizes carismáticas normalmente glamourizam ou perpetuariam os mesmos estereótipos que os filmes almejam criticar. Eu poderia escrever sobre mulheres que se auto depreciam, que expõem a abundante falta de igualdade entre gêneros, criando boas risadas, mas então, como Hannah Gatsby pontuou em sua brilhante história Nanette, eu estaria – em algumas maneiras – trocando minha humilhação por um cheque e pela chances de poder ser aceita.
Nós imaginamos que coletivo é mais forte que individual. Imaginamos que não há heróis. Imaginamos que as árvores de San Francisco e um polvo gigante do Pacífico tinham vozes que poderíamos entender e escutar. Imaginamos humanos como uma espécie entre outras e não necessariamente a mais sábia ou mais evoluída. Nós imaginamos movimentos que juntaram pessoas improváveis no mesmo cômodo, colocando-as para se mover colocando-as a arriscar se tornar vulneráveis pela chance de pisar em outro mundo.
É isso o que The OA foi para mim, Zal e todos os outros artistas que se juntaram a nós. A chance de pisar em outro mundo e nos sentirmos livres nele. Nós sentimos profunda gratidão pela Netflix e pelas pessoas com quem trabalhamos para tornar possíveis as Partes I e II. Nós sentimos orgulho dessas descompromissadas 16 horas. Em grande parte, milhões e milhões de vocês nos deram esse senso de orgulho ao assistir – com comentários que deixaram artes que fizeram teorias do Reddit que semearam movimentos que performaram em praças públicas, quartos, boates e quintais pelo mundo.
Embora não possamos terminar essa história, prometo que contaremos outras. Não descobri nenhum outro mecanismo eficaz para lidar com estar vivo no antropoceno. E talvez, de algumas formas, não é ok não concluir esses personagens. Steve Winchell ficará suspenso em nossas imaginações, evoluindo infinitamente, correndo eternamente atrás e finalmente alcançando a ambulância e OA.
Com amor, Brit”.
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