Critica: “Os oito odiados” sem Spoilers

Cartaz dos 8 odiados

Ficha:

Sinopse:

O empolgante filme “Os Oito Odiados” (“The Hateful Eight” – Quentin Tarantino – 2015) se passa alguns anos depois do fim da Guerra da Secessão (1860) e tem como história o encontro de dois caçadores de recompensas, o “carrasco” John Ruth (Kurt Russell) e Major negro Marquis Warren (Samuel L. Jackson), John está viajando em uma diligência alugada quando encontra o Major no meio da estrada sentado em 3 cadáveres de foras da leis.

Está no início de uma tempestade de neve e os cavalo do Major morreu de frio e exaustão, obrigando ele a pedir carona na diligência para levar os corpos de suas vítimas para a cidade de Red Rock, e assim receber a recompensa por suas cabeças. A vítima de John ainda está viva e é a fora da lei Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que após o seu julgamento provavelmente será enforcada por seus crimes. No caminho para a cidade ainda encontram o malandro Chris Mannix (Walton Goggins), que diz ser o próximo xerife de Red Rock e pega carona com eles.

Apesar de tudo um ponto positivo do filme é que o personagem de alívio cômico da série é uma porta quebrada.

Os 4 (contando com o cocheiro O.B interpretado por James Sparks, que está guiando a diligência) não conseguirão chegar a tempo na cidade por causa da nevasca que está por vir e por isso vão passar a noite na única pousada no meio da estrada (o famoso Armazém da Minnie) onde encontram mais 5 homens, Bob (Demian Bichir),
Oswaldo Mobray (Tim Roth), Joe Gage (Michael Madsen) e o general Sandy Smithers (Bruce Dern), que provavelmente pararam por lá para também se abrigar do frio da noite.

Além daqui fica complicado de contar mais por se tratar de SPOILERS.

Crítica:

Os 8 Odiados, oitavo filme (eu conto como nono) do diretor Quentin Tarantino (Django Livre, Bastardos Inglórios, À Prova de Morte, Kill Bill, Jackie Brown, Pulp Fiction – Tempo de Violência e Cães de Aluguel) era inicialmente para ser uma continuação de seu western anterior: Django Livre, mas provavelmente por conta de alguns problemas com o enquadramento do personagem Django na trama do filme ele preferiu criar uma obra diferenciada. Melhor para ele, pois segundo ele mesmo, é necessário somente mais um filme (num total de 3) para que seja considerado um “diretor de faroestes”. O filme tem uma pegada parecida com “Cães de Aluguel” e é inspirado no clássico “O Enigma do Outro Mundo” (“The Thing” – 1982) de John Carpenter, seguindo a mesma história claustróbica: personagens presos num ambiente hostil e gelado sem poder confiar uns nos outros. Tarantino até mesmo chamou o ator principal do filme referenciado (Kurt Russell) e  encomendou a trilha sonora para Ennio Morricone, responsável pela trilha de diversos filmes de faroeste e pela música de “Enigma do Outro Mundo”.

Os atores estão muito a vontade nos papéis: Kurt Russell nos impressiona como à muito tempo não tem feito, por estar longe das grandes produções, Samuel L. Jackson está praticamente em casa e Tim Roth novamente tem uma missão complicada dada por Tarantino em suas mãos: interpretar um personagem que consegue manipular o expectador deixando dúvidas até o final do filme de sua verdadeira natureza. Os diálogos são tão envolventes que as mais de três horas passam de forma imperceptível, mesmo a primeira metade do filme sendo isenta de ação.

Uma curiosidade é que é o filme é o mais longo do diretor, sendo programado para ser exibido com um intervalo de 15 minutos na metade da projeção.

Tarantino decidiu usar película de 70 mm para registrar o filme, dando um aspecto de filmes antigos de faroeste americano com cenários enormes, muita profundidade de campo e closes extremos na altura dos olhos dos atores, e ainda citando que foram usadas lentes Ultrapanavision, as mesmas empregadas no clássico “Ben Hur”. Mas infelizmente aqui no Brasil os cinemas não tem esse formato, ficando uma tarja preta acima e abaixo na tela para compensar a diferença de tamanho (todos os cinemas com tela estendida estavam ocupados com a exibição de Star Wars: o despertar da força).

O filme é autoral, sem dúvidas é para fãs, pois tem um ritmo lento, boa parte só com diálogos profundos, típicos do diretor, que fazem alguns desavisados saírem da exibição antes da metade da projeção. Ele tem uma trama em sua maior parte linear dividida em capítulos, sendo que apartir da metade temos alguns flashbacks elucidativos (algumas pessoas acharam desnecessários, pois poderiam limitar-se a monólogos dos personagens) que de alguma forma serve também para dar uma folga nos olhos do clima fechado e sinistro do filme.

O filme também não é para moralistas, pois é politicamente incorreto: violência extrema, cabeças explodindo, piadas racistas, nú frontal, sem contar que a cada palavra que a personagem feminina solta é um soco que recebe na boca elevam a classificação etária ao limite mínimo de 18 anos. Inicialmente a exibição causa um pequeno desconforto provocado pelo contraste entre a amplitude da imagem, a câmera vasta, a imensidão dos cenários e o minimalismo da narrativa. Em um dado momento o filme foge do gênero de faroeste e passa a se aproximar mais de “The Thing” com um terror visceral e trash, bem aos moldes do universo tarantinesco.

Apesar de tudo um ponto positivo do filme é que o personagem de alívio cômico da série é uma porta quebrada.

Um bom motivo para ver esse filme no cinema é que Quentin Tarantino declarou que esse é o antepenúltimo filme de sua carreira, pois vai encerrá-la em 10 atos (talvez mais um filme de faroeste, mas não contem com Kill Bill 3 pois esse é continuação).

Essa é a minha opinião sobre a obra, qualquer coisa fiquem a vontade para comentar.

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