Resenha de livro: Os Pilares da Terra

Livro no Kindle

Estamos mais uma vez na minha sala de estar, escondida em um Bunker no Rio de Janeiro para falar sobre esta obra prima de Ken Follett, o magnífico “Os Pilares da Terra”. Eu li no meu Kindle, em mais ou menos 3 meses (apreciando parágrafo por parágrafo) e não me assustei muito quando estive na livraria Saraiva e vi que a obra física tem 944 páginas. Mas o livro prende, e em alguns momentos as cenas de ação ou violência descritas são tão realistas que as vemos se desenrolando em nossa mente. Recentemente foi produzida uma minissérie de 8 episódios baseada no livro, que mesmo sendo ótima, não chegou aos pés da obra original (talvez por causa da modificação da história para ser portada para uma mídia mais dinâmica e rápida como a TV).

Dados técnicos

O romance narra a história da construção da catedral de Kingsbridge, uma cidade fictícia criada por Ken Follett para servir de cenário para sua versão literária dos acontecimentos históricos que se passaram na Inglaterra do Século XII, denominado Anarquia, onde tivemos uma guerra civil que marcou o reinado de Estevão (entre 1135 e 1153).

A história do livro engloba fatos reais (quem não leu o livro ainda pule para Sinopse, estes tópicos – São Spoilers):

 Sinopse

O livro começa contando a história da família de Tom Construtor: Agnes, que esta grávida, Martha e Alfred, seus filhos. Tom é um pedreiro habilidoso que tem o sonho de construir uma catedral, mas está passando por diversas dificuldades financeiras e por isso anda de cidade em cidade procurando trabalho.

Também acompanhamos a história do padre Philip, que vai para o priorado de Kingsbridge para disputar a vaga de prior do mosteiro, pois foi informado que o antigo prior (que o criou), havia falecido. Em um momento ele encontra seu irmão Francis, que lhe encarrega de uma difícil missão: avisar ao rei Estevão que o conde Bartholomew de Shiring está planejando uma rebelião para levar Matilda de volta ao trono (pois seu reinado iria trazer problemas para a igreja).

Ingenuamente Philip pede ajuda de Waleran Bigod, bispo ambicioso e capaz de tudo para obter poder, galgando até mesmo a posição de Papa.

Waleran convence os Hamsleigh, família de aristocratas ambiciosos a o apoiar contra o conde de Shiring, para ganhar a simpatia do Rei. O filho dos Hamsleigh, o boçal cavaleiro Willian (que durante todo o livro faz o papel de um algoz vilão psicótico, que só teme sua ardilosa mãe e a condenação ao inferno) segue em frente com o plano por vingança, pois a filha de Bartholomew, Aliena, recusou ser sua esposa.

Outros personagens interessantes são Ellen e seu filho Jack (que se apaixona por Aliena), que vivem na floresta e passam a acompanhar a família de Tom Construtor e os ajudar a superar as dificuldades daquele local e Richard, irmão de Aliena, que é expulso de seu castelo e tem como objetivo de vida retomar o título que pertenceu a seu pai.

São muitos personagens, mas o autor consegue com grande habilidade desenvolver todos eles, tanto que nem um é colocado de lado na trama.

Não dá pra dizer muito além daqui sem contar spoilers sobre o livro.

Resenha

O livro, que na maior parte do tempo é narrado em terceira pessoa, é extremamente complexo e emocionante. A história de todos os personagens se cruzam, acontecendo tramas, violência extrema, grandes paixões e enormes demonstrações de fé e determinação dos personagens. Muitas das vezes temos conspirações em que o autor mostra o ponto de vista dos envolvidos, suas motivações e métodos. No livro é forte a temática religiosa e como ela é usada para chegar a alguns resultados não muito corretos por quem detém o poder, vemos a força política da igreja na época e como os motivos sagrados eram temidos, até mesmo por quem detinha o poder militar.

Ou seja o livro consegue englobar vários ambientes, desde o dia-a-dia da nobreza nos castelos, dos religiosos nos mosteiros, das pessoas comuns que viviam nos condados e dos trabalhadores artesãos que construíam as grandes edificações daquele século, tudo bem amarrado em um cenário da guerra de sucessão real inglesa.

Durante o livro vocês ficarão com muito ódio, tanto pelos personagens extremamente maus, como pelas injustiças cometidas em nome da igreja e contra as pessoas humildes naquela época, passando por estupro, uso de mulheres como meros objetos sexuais, abuso de poder, extorsão dos camponeses que viviam nas terras dos condados, fome extrema que era uma característica da época da anarquia, etc. Para alcançar esse efeito Ken Follet adota uma estrutura narrativa objetiva: o foco do livro é a construção da catedral de Kingsbridge, os vilões elaboram um planos para derrubá-la ou paralisar a construção, cada um com seu motivo particular, em algumas investidas eles são bem sucedidos outras não, os personagens do núcleo principal sofrem as consequências, mas se recompõem ou não, e para isso Ken Follet polariza algumas atitudes. Para não se tornar repetitivo e desinteressante, Ken Follet nos faz ter empatia extrema com os personagens, apresentando eles admiravelmente e com bastantes predicados. Após essas apresentações iniciais, ele adere a fórmula básica da jornada do herói: coloca esse personagem em situações extremas de sofrimento, para nos forçar a ter mais e mais empatia por ele. Por esse motivo, os personagens passam por longos períodos em que absolutamente tudo que poderia dar de errado em suas vidas acontece.

Apesar disso a obra é uma leitura boa e no fim, mesmo que não acabe como um conto de fadas (nenhum autor atual assume mais este tipo de literatura) tudo se encaixa e faz sentido e ganhamos a sensação de querer mais daquele mundo que está se fechando pra nós.

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A crítica relevante ao livro é sua duração, pois narra fatos que vão de 1123 a 1174 (mais de 40 anos de história, com poucos saltos temporais). Apesar de usar uma linguagem coloquial, o autor é muito descritivo (principalmente nas partes em que os personagens estão contemplando as edificações), e por isso o leitor tem que se preparar para ficar algumas boas semanas na expectativa de terminar o livro, pois em alguns momentos é extremamente difícil de largá-lo, e dada a natureza dos fatos abordados, é um pecado terrível usar de leitura dinâmica, pois as nuances dos parágrafos devem ser bem apreciadas.

E que venha o próximo, “Mundo sem fim” que narra a história dos descendentes dos protagonistas deste livro (mais uma resenha em breve).

Nota: 08/10

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