Última atualização em 29 de abril de 2021
Aqui no meu bunker, ouvindo música clássica nos fones e vendo fotos antigas lembrei de algo que ficou na minha cabeça por muito tempo. Um belo dia no final dos anos 90 eu estava sentado a calçada, distraído com meus pensamentos meio loucos, quando uma menina se aproximou de mim, com bastante receio e me falou:
-Robert… (pausa pra engolir seco) sei que você odeia fazer favores (irônica), mas é que meu namorado, seu vizinho e “grande” amigo (olha a ironia novamente), vai viajar amanhã e esqueceu a carteira aqui na rua. Você pode entregar pra ele quando for pra casa?
Eu iria recusar, mas pensei bem e como Herald era um cara esquecido, só iria lembrar da carteira quando colocasse a mão no bolso para entregar as passagens a aeromoça. Peguei com ela a mini-bolsa e qual foi minha surpresa… Pesava quase um quilo. O cara levava toda a vida dele dentro da carteira, extremamente estufada. Cartões de crédito, vários documentos originais, cópia dobrada da certidão de nascimento, uma enorme quantia em dinheiro e notas e mais notas de compras realizadas, fotos, calendários, etc.
Esse episódio do passado reforça muito minha mente quando finalmente me dei conta que estava precisando de uma vida minimalista. Antigamente quando ia trabalhar levava uma mochila estilo paraquedas, carteira cheia de moedas, cartões de documentos, cordão, relógios, gadgets, etc. Isso não era saldável para minha coluna, perigoso na rua, pois uso transporte público por conveniência e por isso sou uma possível vítima de assaltos (apesar de nunca ter sido assaltado dado o meu tamanho acima da média) e era igualmente prejudicial a minha saúde mental, pois era um tipo de conduta anti organização.
Após adotar pra mim um estilo de vida minimista, muita coisa mudou em meu dia-a-dia.
Não quero forçá-lo a mudar radicalmente, mas você, caro leitor, tem que pelo menos experimentar uma vida minimalista, resumida (mesmo que parcialmente) e verá que muita coisa irá mudar em seu jeito de pensar, seu humor durante o dia e no seu desempenho e produtividade. Mas como ter uma vida minimalista?
A primeira coisa é desapegar! E realmente é a mais difícil, pois muitos objetos representam boas (e às vezes más) memórias. Aquele brinquedo de infância, aquela caneta tinteiro de uma viagem a Iracema de Jaquarta, etc. É até difícil, mesmo impossível, falar sobre isso nesse artigo, pois o ato de se desfazer de coisas de casa é uma arte à parte, que dissertarei em outros artigos.
Aqui vou me focar no que interessa, que é como você ser minimista no dia-a-dia.
Carteira
Como falei do Herald, andar com sua vida na rua pode lhe causar sérios problemas. Um assalto, furto, ou mesmo esquecendo seus documentos em algum banco de praça após alguns minutos de descanso, podem lhe dar, além da frustração de perder um bem, meses de idas e vinda na polícia para registrar boletins de ocorrência, órgãos públicos para pegar segunda via de documentos, lojas para cancelar cartões, etc.
Sua carteira tem que andar com o que é necessário! Seria uma quantidade mínima necessária de dinheiro (calcule quando irá gastar na saída a rua e coloque mais uns 20% para emergências), uma fotocópia de um documento (seria interessante um que tivesse o número de identificação dos demais, como por exemplo: sua carteira de motorista). Uma folha de cheques SE FOR PRECISAR, e alguns itens que não vão fazer volume. Moedas, evite… Sempre as use pela manhã na hora de pagar aquele cafezinho, pois além de travar a economia você está danificando sua carteira e suas roupas, além de ser uma coisa deselegante.
Acessórios
Sei que você tem um estilo próprio: Relógios de pulso gigante da Invicta, cordão de 500 gramas de prata, anel de ouro com aço, óculos Ray Ban de aviador (para as mulheres até justifica, pois os óculos gigantes da Dulce & Gabanna nunca saem de moda), brincos de argola africana, etc. É válido, mas normalmente em alguns ambientes não é muito saudável visualmente chamar tanto a atenção, sem contar que pelo lado prático estamos em alguns casos cometendo redundâncias.
Estamos com telefones cada vez mais finos, com a função de relógio permanentemente acesa. E menos chato ver a hora tirando o telefone da bolsa ou do bolso da calça a ficar toda hora olhando para o pulso para verificar. Nos tempos atuais onde já acordamos atrasados, esse ato acaba virando um tipo comum de transtorno obsessivo compulsivo. E digo mais, os telefones do tipo “smartphone” substituem agilmente não só o relógio de pulso, mas também a câmera fotográfica de bolso para o dia-a-dia (não em viagens), o mp3 player, o relógio de pulso, o gravador de voz, o bloco de anotações e caneta, a agenda e a lista de compromissos. Vale a pena perder um tempo para aprender a usar todos esses recursos e evitar sair a rua com todo esse peso extra.
Bolsa e mochila
Esse ítem é fácil: um belo dia derrame todo o conteúdo de seu saco pessoal em cima da cama e divida em 3 montinhos: o que deve realmente ir na bolsa, o que deve ficar em casa ou no escritório e o que deve ir para o lixo. Seja duro consigo mesmo, descarte sem pena e jogue direto na lata de descarte, não guarde para posteridade. Cabos e carregadores são necessários, mais é mais prático e econômico comprar um par para cada local que você vive, pois além de andar com peso extra, o ato de colocar na bolsa como o tempo danifica o equipamento e os cabos. Papéis devem ser guardados em casa. Se forem necessários só pra consulta é bem melhor “escanear” ou fotografar e colocar em seu evernote, google drive ou mandar para seu próprio email para consultas futuras, e se não tiver acesso a internet guarde uma cópia no rolo de câmera do seu smartphone. Essa triagem vai esvaziar sua bolsa e liberar sua vida. Siga a regra: leve somente o necessário e essencial, o resto ou vai para o armário ou para o lixo.
Roupas
Minimismo é se vestir bem. O extravagante fica para festas, passarelas da moda ou eventos específicos. Para trabalhar, faculdade, curso, etc o melhor pedido é uma roupa sóbria compatível com o que é pedido nas regras do local. Neste ponto os homens tem vantagem pois um terno cai bem em qualquer ambiente, já as mulheres tem que improvisar pois ficam em uma linha tênue entre a moda simplista e a extravagante.
Quer se destacar? Evite o termo “pavão”. Em muitos casos um chapéu combinando, um cachecol, broche ou até mesmo um cinto mais transado podem fazer o milagre em seu visual. Se for o caso construa camadas de roupas (redundância é justificada na moda, mas sem exageros), mas nunca varie muito nas cores e no chamativo.
Mesa de casa ou trabalho
A mesma coisa que falei para as bolsas (mochilas) se aplicada as mesas. Mas aqui a coisa é um pouco mais divertida. Se meus caros leitores desejam arrumar sua mesa, estudem antes a filosofia chamada GTD (Getting Things Done) idealizada por David Allen que coloca mais alguns passos em relação ao processamento de seus objetos. Mais vale o mesmo princípio: o que não tiver uso breve vai para o lixo ou para algum lugar diferente, o que tiver que ser feito rapidamente deve ser feito antes mesmo de passar para o próximo ítem e o que for necessário deve ser colocado em uma pilha de prioridades para que você veja que tem trabalho pela frente. Em breve falarei mais sobre o GTD e como implementá-lo em sua vida.
Amigos
Se relacionar é muito bom, mais para uma vida minimista devemos separar boa parte dela para realmente fazer nossas horas valerem a pena. Muitos amigos por perto é saudável e bom, mais sempre é necessário reservar um tempo de seu dia para ficar só, ouvir uma boa música de sua banda favorita deitado em sua cama ou ver aquele filme que só você gosta. E aproveite para colocar no papel todo mundo que está a sua volta e ver quem realmente está adicionando algo de bom pra você, para que não cometa o erro de tratar as pessoas de forma distinta baseado em impressões erradas.
Com o tempo aprofundaremos mais neste tópico interessante, mais esse ponta pé inicial deve ser dado para que você comece a se acostumar em simplificar sua vida. Gradualmente os benefícios irão aparecendo e quem sabe no futuro você se torne um exemplo de organização e simplicidade para seus amigos, colegas e familiares.
Att.